Sonhos dos Magos Vermelhos 12 . Noite no “pântano”
Sonhos dos Magos Vermelhos 12 . Noite no “pântano”

Sonhos dos Magos Vermelhos 12 . Noite no “pântano”

Boa noite.. para os parâmetros do lugar é uma “boa noite”. O ambiente ainda tem o cheiro de morte, bem forte. Estamos nas ruínas da cidade. Vila talvez. Vilas são cidades pequenas. Estamos cercados pelo “pântano” corrompido e o cubo zumbi de sangue deve estar na entrada por onde viemos. O tempo em que ele permaneceria banido acabou há algumas horas.

Nosso dia começou em Ayacar, na reunião com Zehira, ou convocação de “garantia”? De lá, o teletransporte, cortesia de Thass, para Maelstrom. A recepção e o crime, necrotério e ressurreição, cortesia de Lathander, conversas interessantíssimas com nobres querendo tirar algum proveito de um crime e as runas que nos levaram ao “Pantano dos Homens Mortos”. Cruzamos a região, encontramos os trolls, o pescador mercenário, os cubos reanimados recheados de cultistas do dragão.. e por fim esta casa com os três humanos e o ínfero. Agora apenas os três humanos e longas horas de descanso, mas ir como estávamos seria imprudente. 

O ínfero era Zeksmantass. apesar de ínfero, os traços eram muito mais próximos de um canídeo, bípede, e de óculos. Aurora ficou um pouco incomodada, e com aquele enorme sol do peitoral da armadura e ele percebeu o porquê do incomodo. Deu para ela um colar mágico como prova da boa vontade. Meu problema maior com ínferos é que eles são literalmente uma “espécie invasora”. Um viajante com planos de ir embora logo e disposição para ser cooperativo, não precisa ser um problema. Ele definitivamente cooperativo enquanto esteve conosco e partiu para outro plano logo depois da conversa. Zeksmantass também cedeu sem maiores o livro em que descreve seus estudos que foram a encomenda do Culto do Dragão. A pesquisa é algo sobre uma forma de alterar o artefato que o lich vincula sua alma. Combina com um culto que tem obsessão por dragões azuis mortos. 

Apesar do baixo custo benefício de uma solução agressiva, fica o problema da escolha de clientes da criatura. Assim que possível vou repassar as informações. Inclusive essa pesquisa, que pode ser problemática. Talvez ainda ajude.

Quanto aos três humanos, são absolutamente irritantes. O tipo de coisa que já vi que é melhor deixar para Aurora e Thass resolverem. Existem alguns graus de incompetência quanto a percepção da natureza do serviço de um acólito que se sobrepõem e eu prefiro não lembrar de forma técnica. Ou lidar com isso. Mas pelos deuses, nem sempre as coisas correm assim.

Todos cansados, um dia mais longo do que deveria, precisávamos de uma refeição decente. Eu não como carne por princípios. Causar interferência no meio que estou atuando para evitar a interferência seria contraditório. Um pouco também pela sensação estranha que seria adotar uma forma animal e se alimentar daqueles que há pouco me recebiam como igual. Alguns colegas preferem outro extremo, se alimentam apenas carne de caça sem qualquer forma de preparo. Para infelicidade dos meus colegas, ou talvez sorte pela oportunidade, não compactuo desse tipo de modéstia. E um terceiro ponto, eu simplesmente prefiro. Especialmente cogumelos. Pena que os da superfície não são tão gostosos.
Nem sempre os lugares que passamos tem alternativas, então.. trouxe ferramentas, trouxe ingredientes, trouxe até uns componentes para consagração do alimento e eu ia executar com tranquilidade uma janta de qualidade. Ia. Subitamente, Thass, ela estava especialmente inspirada, seja qual for a entidade que ela acredita. Thass trouxe os três humanos para me auxiliar. Era “uma primeira experiência de nova vida”. Eu estava mandando eles embora, Aurora chegou com mais coisas confirmando as palavras de Thass. Situação desagradavel. Aurora normalmente percebe quando eu tenho vontade de ajudar alguém mantendo a pessoa longe antes que eu ajude demais. Ela estava um tanto abalada desde que achamos o mapa de Águas Profundas e comentou que era de lá. Não foi apenas a conversa com Zeksmantass, foi diferente .. achei melhor me conformar com a população no cubículo que funcionava a cozinha improvisada.

Artús, ficou responsável pela limpeza. Dara, era para separar os recipientes e utensílios de lá. Satríúait, sobrou para ajudar com os ingredientes. Não, eles não se chamam assim, mas não tive vontade nenhuma de perguntar. 

Artús não sabia se eles tinham ferramentas de limpeza, foi pedir ajuda a Thass. Será que queria usar o golfinho de vassoura? Conseguiu improvisar alguma coisa, acho que foi o menos pior. Nessa hora ouvimos um grito, seguido de um barulho de coisas caindo e Dara estava rolando no fundo do corredor próximo, em uma nuvem de poeira colorida entre diversos itens que rolaram junto pelo chão. 

Dara se recolheu contra a parede e deu mais um gritinho quando Gutuk apareceu perguntando o que havia acontecido. Ele misturava as palavras e falava que o demônio tinha voltado. Deuses… Eu não sei do regimento do Culto do Dragão, … Como essa criatura acha que é um dracolich azul que a ordem dele parece querer trazer? Ele se recompôs, bateu a túnica e juntou o que tinha de potes ou coisas que podiam fazer papel de louça. O que estava em melhor condições ele havia conseguido do quarto de Zeksmantass. A prudência não recomenda uso de utensílios de alquimia que foram usados por uma criatura infernal para alimento. Aurora providenciou o que precisava com as coisas que trouxemos. Trix apareceu com o rosto vermelho de quem teve que segurar muito riso, pegou um pedaço de pão para Fofucho. Ele estava coberto de poeira colorida e não foi preciso perguntar nada. 

Agora, Satríúait, era uma tarefa simples. Eu tinha separado as coisas. Ele precisava picar. Itens separados. Picar. Colocar nos potes. Separados. E picados. Esses utensílios eram os em ordem. Os que havia trazido. Estavam bons. Ele teoricamente sabe usar uma adaga. Ele tentou atacar Gutuk com uma. É a primeira arma de um iniciante acólito, isso é meio que padrão .. a menos que a divindade especifique, mas é uma arma de entrada. A faca de cozinha é menor, mais precisa, tem fio em um lado apenas. A minha estava em perfeitas condições. O rapaz resolveu usar não sei como, acho que nunca viu uma faca de cozinha na vida. Não uma que tenha tentado usar. Se cortou de um jeito que ainda bem que Aurora estava por perto. Ela fez questão de ajudar, acho que estava de olho nos humanos. Deuses.. ele teve a coragem de falar que era culpa dos ingredientes. Eu peguei pesado com o humano que se machucou? Talvez. Mas eu não pedi e não queria ajuda.

Trix voltou com Gutuk para combinarmos quem ia vigiar quando … tanta gente entrando e saindo daquele quartinho… não sei como, …conseguimos executar a janta. Uma bela refeição, com valor nutricional e consagrada a Silvanos. Artús, Dara e Satríúait, provavelmente não comiam algo decente há alguns meses, acho que ficaram gratos. Ou era aquela forma de educação que se manifesta por medo. Espero que adotem bons hábitos alimentares junto com a “nova vida”. Tive a impressão também de que vi Gutuk misturando um pouco de carne seca no prato, mas disse que estava satisfeito e estava surpreendentemente gostoso. Ele parecia menos frustrado que Thass. Ele parece ter mais familiaridade com comida cozida. A feita na brasa é definitivamente uma preferência dele, mas não sei maiores sobre as dietas da cultura bugursa. Ou yuan ti. Thass parecia um pouco confusa sobre o que comer primeiro e como. Apesar desse feedback, fiquei feliz, queria fazer algo bom, especialmente para Gutuk depois daquela ideia sem noção e terrivelmente funcional do feitiço dos anéis e que simplesmente impediu que eu caísse na última luta. 

Depois da refeição, Thass seguiu com seu projeto de “reforma” do trio de humanos. Tenho impressão que ela estava ensinando uma variante de um jogo de cartas que tinha no navio, as regras eram meio diferentes. Talvez meio incoerentes, mas deve ser coisa de jogo de humano. Eles estavam entretidos o suficiente pra não sair dali, esse era o ponto. Thass leva jeito nessas coisas. 

Eu queria revisar os cômodos e estudar algumas coisas, mas antes achei melhor conversar com Aurora. Quando encontramos o mapa de Águas Profundas, ela havia ficado incomodada, contou que era de lá e etc. Desconhecendo as especificações dos componentes, perguntei se ela não teria nada de lá para Thass usar de veículo, da forma como havia sido com o convite a Maelstrom. O requisito é algo de até 6 meses, Aurora disse que não tinha nada há muitos anos. Por sorte descobrimos que Satríúait era de lá e por sorte era de lá e cedeu de boa vontade um pingente. Pelo material e acabamento, ele é de família importante. Enfim, provavelmente fui indelicado e achei melhor pedir desculpas. Isso levou a uma conversa inesperada. 

Já conhecia sobre o que Aurora tinha perdido em Chult, as pessoas próximas, o irmão, mas Águas Profundas é algo bem anterior. Ela era de uma família importante e tradicional, nobres mesmo. Eles forçaram ela em um casamento, ela passou por vários acontecimentos muito dolorosos e humilhações. Chegou a perder uma criança. De alguma forma, conseguiu abrigo na igreja do Senhor da Manhã. Portanto, quando comenta dessa família de origem, é complicado, entre o desgosto e o desprezo, se considera morta para eles. Talvez esteja. A antiga residência em Águas Profundas é dessas pessoas que negociaram ela, portanto não teve notícias e nem pretende ter. A Ordem de Lathander foi um começo novo e limpo, se tornou um propósito e uma missão de vida. 

Só sei que de famílias “tradicionais com compromissos sociais definidos” entendo mais do que gostaria. Foi, ..uma conversa.., dá uma certa sensação estranha. Talvez sobre a organização humana. É duplamente desagradavel entender e compartilhar a aversão de uma matriarca a certos costumes da superfície. Os nobres de Águas Profundas tem servos, que são livres, no entanto, os machos tem o poder de decisão de uma sacerdotisa ou matriarca. O patriarca (até o som da palavra é estranho) da família de Aurora que acertou o contrato dela com outra família de prestígio. Isso realmente não tem nada de extraordinário, é o que acontece em qualquer aliança de casas, tirando a parte, do “patriarcado”. Deve ser uma coisa de romantização dos trâmites, o que é compreensível, mas é um pouco estranho pensar em um contrato de aliança que fuja muito disso. Conforme ela contava a história, acho que ouvi a voz da matriarca na minha cabeça “e macho tem competência pra isso?”… situação…  O tempo com humanos é confuso e embolado, tem coisa demais, rápido demais, parece que eles rendem muitos anos, acho que perdi um pouco de noção do quanto é muito ou pouco em relação a idade de Aurora… estou há relativo pouco tempo na superfície,.. e claro, não é que eu não tenha reparado na grosseria de certos machos ou o apego na cultura em geral que eles têm ao conceito de gênero e papéis absolutamente sem consistência que eles acham pertinentes..  alias, talvez seja uma peculiaridade interessante de se registrar, na média dos lugares, tirando a primeira impressão “amistosa” que compartilho com Thass e Gutuk, e não tiro a razão dessa primeira impressão, existe um ritual em que o humano quando vê meu rosto busca por parâmetros que tragam algum paralelo com esses .. códigos, da cultura deles. Fazem isso com elfos em geral, mesmo que não faça muito sentido. Elfos da superfície também ficam confusos comigo, a primeira impressão é um pouco mais complicada, e a segunda, confusa, em decorrência da primeira e não pelos motivos dos humanos. Meus conterrâneos, simplesmente evito. Essas situações apenas reforçam minha percepção pessoal sobre o senso de humor questionável dos deuses e talvez seja por isso também que ainda estou aqui. Aurora é bem tranquila nesse aspecto, talvez até parte da filosofia de uma portadora da luz. Zehira tem pequenos conflitos que desaparecem quando ela lembra que o mundo gira em torno dela mesma. Cada uma com suas prioridades. Para a média restante dos humanos, e tem uma porção grande deles em Ayacar, agradeço a conveniência do meu mapa. 

Enfim, situações cansativas da necessidade de sociabilização com estranhos à parte, entender que machos emulam o comportamento de matriarcas em algumas famílias nobres em cidades livres, foi estranho.., talvez ingenuidade, mas definitivamente estranho. 

Na parte que Aurora detalhou sobre a ordem e a série de bênçãos da vida religiosa, o paralelo se inverteu um pouco mais, talvez.  Não perguntei mais detalhes das circunstâncias que levaram ela a se abrigar na Ordem de Lathander. Existe uma zona de potenciais divergências que prefiro respeitar.. Aurora tem uma capacidade admirável na forma como ela direcionou e se reorganizou. Pessoa muito forte. Lathander é uma entidade positiva para estar ligado, pelo menos para aqueles que veem sentido nas práticas. Eu não compartilho do otimismo, não mudaria a forma como lidei com certas situações e assim como estranhei certas coisas, talvez ela estranhasse outras. O lado sacro das obrigações sociais nunca me ajudou muito. Talvez seja estranho colocar isso diante das minhas funções atuais, mas é diferente, nenhuma entidade é maior que certos aspectos do ciclo e as que eu sigo trabalham a favor e por isso. Na parte de tradição, desonra e morte, a palavra talvez seja empatia. Foi uma conversa boa, talvez? A parte de falar de coisas pessoais e vulnerabilidades também é nova. Infelizmente vai trazer memórias desagradáveis quando tentar descansar. Não que não tenha piorado desde que recebi a última dádiva de divindade de humor questionável. Acabei fazendo aquele chá bem forte… ajuda a não esquentar muito com memórias ..e agora pensando, espero que não tenha efeito adverso em alguém que dorme. 

Nessa madrugada, acho que ouvi os humanos tropeçando de novo. Alguém parecia com pressa para ir ao banheiro e embora Trix estivesse dormindo, acho que vi Fofucho passando entre os corredores rindo. Amanhã vamos para Águas Profundas e vai ser um longo dia longo. Espero que o longo não tenha hoje por referência. 

Retrospectiva do que é importante:

– Encontrei um livro com a imagem desse lugar e um dracolich azul. Tudo muito animador. Não.
– Gutuk encontrou os 3 cultistas do dragão no armário? Acho que era a cozinha? Um quarto. Ele e Aurora conversaram com os sujeitos. Um tanto inúteis, não tinham tanta informação, realmente iniciantes, sem muita noção dos planos ou que havia acontecido.Tentaram ocultar o ínfero. Não souberam esclarecer sobre o destino dos demais da ordem ou os thayanos. Tirando os cultistas que encontramos dentro dos cubos. 

– O ínfero é um estudioso freelancer, Zeksmantass. Tomaram liberdade de tratá-lo por “Zé”, não demonstrou se importar. Ele passou as informações de forma cortês. Disse que já havia acabado a pesquisa e tinha outros compromissos. 

– Ele cedeu o relatório da pesquisa que está separado com algumas notas que podem ser pertinentes aos sábios. É sobre alteração da “ancora” de um lich.

– Ele presenteou Aurora com um artefato mágico como prova de boa vontade. Um colar com módulos, como pérolas, que ativam campos de dano mágico por fogo.  

– Um mapa no arquivo/escritório (pessimamente organizado) indica que existe uma base do culto na área nobre de Águas profundas. 

– Em outro recinto, Gutuk encontrou uma espécie de esboço da sala do trono da fortaleza. Basicamente o plano do ataque, quase uma assinatura de tudo que havíamos achado. 

– Um dos cultistas tinha um ornamento que pode nos levar para Águas Profundas com a conjuração de corte de espaço de Thass. 

– Tinham duas escamas de dragão azul, cada uma em uma sala aleatória. Função pratica desconhecida, ou apenas fetiche de um grupo obcecado por dragões azuis mortos.