Depois de alguns dias na ilha da árvore, para informar o conselho do que havia na ilha da garra, retornei a Ayacar.
Foi bom rever meus colegas. Amigos. Depois de quase morrer com uma criatura extraplanar polvo-cabeça, acho que se pode usar a palavra amigos.
Encontramos com Mhezar, ele muito agradecido. Estava grande, maior ainda e azul. Acho que agora passava a Blantra. Mas não Gutuk. Ele estava pescando com um senhor e um menininho que era neto ou algo assim. A impressão era que ele estava testando as coisas simples, longe de casas importantes e negócios. Comentou sobre Zehira e indicou que ela estaria numa casa específica, alguma coisa da sereia.
Não foi tão difícil de achar. No caminho conversamos, era unânime que, bom, a humana parecia sinônimo de problema. Posso adiantar que ela não nos decepcionou nisso. Pelo menos pra mim.
Chegamos na casa, tudo muito chique. As paredes tinham mosaicos de pastilha com figuras de coisas do mar. Algumas imagens lembravam Sehanine.
Ela queria nos oferecer uma refeição, tudo muito caprichado, com coisas específicas para cada. Até Thass tinha um peixe fresco quase vivo.
Logo veio a questão: ela nos mostrou um artefato, parecia rudimentar externamente, mas em termos de estrutura mística, uma obra arte. Era um artefato dos elfos do mar, Zehira havia conseguido quando tentava escapar da ilha da garra. Segundo ela, a maga thayana estava a serviço de um dos zulkires, e em busca do Bibliotecário, alguém, talvez algo, muito importante entre os elfos do mar. (Foi no mínimo, preocupante e mais uma constatação da irresponsabilidade da moça! Fui justamente procurar os sábios para informar da ilha e agora esse lapso com informações graves. Enfim..) . Ela disse que os elfos do mar, apesar de, reservados, .. (deuses.. humanos às vezes parecem não ter noção do que realmente são elfos xenófobos, fico um tanto constrangido com algumas colocações, às vezes um comportamento recluso tem motivos pertinentes. E aquele lanche? Como se fosse tornar tudo mais digestivo?) Segundo Zehira a região mantém relações de comércio amigáveis com os Alu’Tel’Quessir e no caso, ela mantém um contato interno do próprio conselho da cidade. Segundo o contato haveria também um aliado de Thay infiltrado.
O serviço para qual Zehira havia nos chamado, seria auxiliar a encontrar o bibliotecário, antes de Thay. Ela tinha inclusive o diário da maga com uma rota alternativa para chegar em Myth Nantar… Blantra tinha mais do que nunca razão de ter o pé atrás, Gutuk muito disposto a oferecer a alabarda por uma porção condizente de ouro, Aurora, acho que ela entende bem as implicações de qualquer coisa que tenha ligação a um subordinado de um zulkir. Thass, ..Thass não tenho certeza, ela procura alguma coisa que não sabe explicar e simplesmente acompanha. Para mim, com as informações dadas, é um pouco, uma corrida contra o tempo.
Zehira, ela conseguiu o que tanto estava … sendo cansativa, a respeito, a reforma do tal barco e agora é a capitã do Determinacao de Umberlee. Não é tão rígida com as regras sobre palavras mas prefere respeitar de forma informal. Tapa do Golfinho segue a serviço dos pais dela. Ela agora parece usufruir de certa autonomia.
Para a decepção de Thass fomos com o Umberlee mesmo. Depois de últimas provisões emergenciais, poções e lógico, sonhos, partimos.
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Fomos pelo caminho da maga thayana, um ponto no mar relativamente próximo de Ayacar. Era um cemitério de navios, porém quando se olhava com cuidado, estavam cuidadosamente empilhados. Havia duas opções de caminho, mar aberto ou pelos barcos. Fomos pelos barcos, o grupo achou mais seguro. Fui guiando, como galha-preta, seria mais fácil conversar com um em caso de imprevisto. O caminho foi sem problemas e no final foi possível ver do outro lado uma gigantesca cidade.
Não demorou para reconhecermos, ou sermos reconhecidos. Um grupo de Sahuajins. Dessa vez adultos. O tipo de criatura maldosa que a primeira coisa, quando não atacam simplesmente, usam controle nos outros que não tem nada a ver com o assunto. Eram outros galha preta.
Zehira, fez das suas e começou avançando sozinha esquecendo, .. ignorando, (para esquecer de algo você precisa se preocupar em lembrar, não?) (Ainda bem que ela lembra sobre a necessidade de respiração do grupo, mas vou me manter precavido.) enfim, ignorando que os demais não tinham equipamento ou habilidades específicas para manter a velocidade padrão embaixo d’água e foi de encontro ao que parecia ser o líder. Sozinha. Gutuk manteve posição, (desde o incidente na ilha da garra tem se mostrado muito preocupado em proteger o grupo.) Ele ainda estava longe demais. Como eu tinha uma certa mobilidade, pude dar carona a Blantra. Acho que os Sahuajins nunca tinham visto uma draconata enorme e amarela, logo estavam cercando ela.
Aurora nos abençoou e Thass, acho que foi um tipo de “desbenção” nos Sahuajins. Ela estava inspirada, deixou alguns, parece que tinha “fritado” eles no estilo do monstro Axam, invadindo a cabeça alheia. Deve ser de entender de coisa assim que ela conseguiu lidar melhor aquele dia. Um deles até caiu assim.
Gutuk logo ganhou alcance e usou aquela habilidade com a alabarda fora de escala. Aurora chamou os espíritos do deus dela. Eles vieram como golfinhos.
Adotar forma de galha preta foi bom, confundiu os Sahuajins com um tubarão que não respondia. Tecnicamente foi uma escolha acertada, mas aquela hora me senti desrespeitoso com Sashelas. O gosto de sangue que fica na boca depois também é bem ruim.
Não acompanhei o que Zehira fez do outro lado, já tinha problema suficiente de onde eu estava. Sahuajins são daquelas criaturas que ficam ainda mais agressivas, de uma forma sádica, com sangue por perto. Os colegas galha, por sorte saíram do controle a tempo e fugiram. Não é o tipo de coisa que eles precisavam.
Gutuk manteve um dos Sahuajin vivo para depois saber de onde vinham. A essa altura já era possível acompanhar outro grupo que se aproximava.
Eram os donos do lugar, a guarda de Myth Nantar. Além de estrangeiros, aparentemente éramos invasores e em uma passagem proibida. O ponto em nosso favor parecia termos derrotado os Sahuajin. Zehira parecia não ter o acesso diplomático que havia garantido ter. Eu não sabia o que era menos pior, permanecer como galha preta ou normal. Não é o tipo de situação que você quer tornar mais difícil.
Aurora foi nossa interlocutora, Thass parecia um tanto impaciente, tentei interferir o mínimo. Gutuk e Blantra permaneceram confusos, mas em confiança. Acho que eles não entendem élfico. Confiança dentro do possível. Blantra precisou ser convencida a entregar as armas.
Aurora falou o suficiente para que mesmo naquela situação fossemos tratados com educação. De qualquer forma nos levariam para decidir o que fazer.
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A cidade perto tinha algo de familiar. Algo bonito e triste. Talvez alguma coisa das ruínas nas linhas das construções ou na disposição das casas. As pessoas pareciam estar concentradas próximas ao mythal. Ele estava localizado no ponto central e avenidas nos sentidos cardinais dividiam a área no raio de alcance dos efeitos que tornavam o ambiente amigável à terrestres. Uma cidade bonita, mas parecia em estado de sítio. As pessoas com aquela exaustão moral nos encaravam. Eu conheço isso, essa sensação de ser fonte daquilo que é ruim. Permaneci atrás de Aurora.
Deuses! As estrelas haviam trazido bons presságios, rezei para esses presságios aparecerem, principalmente quando ainda no caminho Zehira falou que haviam assassinado seu contato.
Chegamos a uma figura distinta, que se identificava como Oceanus. Não pertencia ao conselho, era o chefe da guarda de Myth Nantar. Parecia uma pessoa razoável, nos ouviu e deu crédito às informações quando Aurora colocou o porquê estávamos ali.
Nossas armas foram devolvidas e de invasores passamos a aliados. Ele pediu apenas um favor modesto, auxílio para a reconstrução do templo de Deep Sashelas.
Aurora ficou um pouco receosa, mas isso pelo menos pude afirmar, que não era um problema. O bom presságio ficou claro quando o senhor da guarda se mostrou devoto de Corellon.
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Oceanus, aceitou nossa palavra mediante a uma prova de boa fé ajudando no templo. Ele também designou Thessalia Lamaer como guia. Afinal, o contato de Zehira não tinha morrido, era Thessalia. Ela nos levou primeiro ao templo.
O templo era a mistura de pedra esculpida, corais e mosaicos. Os corais funcionavam como as treliças vivas característicos em algumas construções élficas. Os mosaicos de lascas de pedra que refletiam um pouco da luz que chega da superfície. É um lugar vivo, com pequenas criaturas que respeitosamente ocupam e se integram. O que não era respeitoso era o estado do lugar. A janela superior, que seria mais para entrada de luz, estava destruída com parte do telhado. Os destroços espalhados na parte frontal do altar entre as peças danificadas, inclusa uma parte importante do mosaico principal.
Um senhor na frente perto dessas pedras era o sacerdote, Iridan Stormbringer.
Deuses! Gutuk fez a gentileza de me apresentar subitamente. Nada de preocupante, tirando a possibilidade de ser acusado de profanação? Gutuk e Thass, não são também de espécies “usuais”, mas algumas coisas internas costumam ser agravantes. Apesar dos pesares, o senhor Iridan, foi muito cordial e pronto.
Gutuk, Blantra e Thass (com alguma habilidade psiônica) conseguiram agrupar os blocos maiores enquanto conectava os corais. Aurora separou os cacos do mosaico que estavam por tudo. Arquitetura viva não se conserta, se regenera. As coisas que foram passadas sempre guardam marcas. Isso não é bom ou ruim, a sobrevivência daquele espaço sagrado vai estar registrado nele mesmo.
Estava terminando as últimas peças na lateral, ouvi um barulho de telha, quando olhei, acho que alguma coisa tinha caído na cabeça de Gutuk. A parte da janela recém consertada estava novamente destruída e mais sahuajins.
Era um grupo até pequeno, definitivamente já pegamos coisa pior. O receio era que houvesse mais ou que algum deles chamasse outros. Um deles tinha uma habilidade peculiar de chamar a água em um redemoinho.. ele tinha uma característica .. estranha, tatuagens em padrões arcanos numa cabeça lisa. Definitivamente, apesar dos traços de criatura submersa, algo lembrava os magos de Thay.
Senhor Iridan ficou grato, os guardas que chegaram também. Ganhamos um pouco mais de credibilidade e o sacerdote orientou para que Thessalia nos levasse ao Bibliotecário. Também pontuou que a clava de Zehira, por mais curioso que pareça, tinha origem nanica.
A construção que abrigava o Bibliotecário era um prédio redondo, um pouco diferente do templo, mas também com as características de lugar sagrado, ou conhecimento sagrado. Thessalia não quis nos acompanhar, seria desrespeito entrar sem perguntas.
O bibliotecário era uma entidade divinatória que remete aos tempos de Aryselmalyr e se apresentou sob as 3 formas do espectro. Foi uma experiência. Fez imaginar qual seria a reação em casa. Vou ter muitas histórias quando voltar…
O Bibliotecário nos disseram sobre um ataque de mortos vivos de Thay em 2 dias e também afirmou que não cairá nas mãos dos Zulkires. Disse que havia um aberrante, Sahuajin modificado com sangue élfico, Malenti, e esse era o assassino que andava entre os da cidade. Disse que iria nos incriminar e aconteceria em breve. Disse que o caminho do malenti se dividia em três desdobramentos possíveis, inclusive redenção. Realmente gostaria que fosse o último. (É um pouco pessoal quando uma criatura supostamente maligna que pode contrariar as origens. Será que é por isso que apeguei com Thass e Gutuk? Agora pensando, foram várias pessoas no meu caminho que mostraram valores inesperados..)
Zehira também recebeu uma série de informações, mas de forma particular. Ela como capitã de um navio, parece que terá um papel importante nos acontecimentos que virão.
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Logo que saímos, Thessalia orientou para que nos reuníssemos na praça. Seria o mais seguro. Nós precisávamos descansar depois do encontro com os sujeitos depredadores de templo. Pelo menos entendi que era isso que íamos fazer. Não foi possível.
Em poucos passos, as palavras do Bibliotecário: o corpo de um soldado morto e um grupo de outros soldados vindo em nossa direção, esses vivos, nos acusando de tal ato.
Thessalia tentou argumentar, atestou nos ter acompanhado o tempo todo. A discussão ia se extender e a sensação é voltavamos ao ponto inicial: estrangeiros criminosos. No entanto, uma nova reviravolta: uma explosão que cortou os argumentos. Os guardas se moveram para verificar o ocorrido e eu vi a malenti na outra direção executando um ritual.
Nosso grupo se colocou para impedir que a mesma fugisse. Era um portal de teleporte. E era complicado conseguir ajudar ela a se redimir em fuga depois da explosão. Impedir também, ela estava bem longe. Para uma coisa ou para outra, tínhamos que fazer rápido, antes que ela saísse dali.
Blantra arremessou Thass, Gutuk correu com ela. Aurora chamou a benção de seu deus. Eu mostrei que feiticeiros sahuajins não são os únicos que podem guiar a água.
Thass tentou alguma coisa, não sei o que foi, mas não deu certo. Não havia mais tempo e a criatura estava habilmente resistindo as nossas interferências. Ela simplesmente foi, e deixou em seu lugar uma hidra e um chuul.
Eu não tinha mais resistência para adotar uma nova transformação, o que podia fazer era sustentar o redemoinho e algum dano radiante em um ponto por vez.
Aurora transformou sua bênção em manifestação das ancestrais de sua crença, mais uma vez golfinhos de luz. Tenho certo que é a influência de Sashelas.
Thass chamou algo.. bom, alguma coisa que ela tinha acesso, algo extremamente aberrante em contraponto às forças que eu e Aurora havíamos chamado. Aquilo se colocou no meio. Foi uma visão no mínimo peculiar, a intersecção de 3 tipos de interferência. As criaturas presas no meio enquanto nossa dupla de braço pesado e a turmishana, lidavam corpo a corpo. Talvez a parte mais cansativa tenham sido as cabeças. Thass chegou a lembrar que elas tinham problema com fogo, mas nesse ponto, as coisas já estavam encaminhadas. Do outro lado os guardas que haviam nos acusado enfrentavam seus próprios problemas com mais sahuajins e tubarões controlados.
Infelizmente a malenti fugiu. Não preciso dizer que ficou um tanto vergonhoso para aqueles soldados. Parafrasear o senhor Iridan, “só Sashelas na causa”.
Falamos com Oceanus sobre o ataque. Ele já sabia, perguntou o que iríamos fazer.
Zehira ficou de acordo em permanecer para ajudar contra o ataque, alguma coisa de importante do que ela recebeu de mensagem de Bibliotecário.
Gutuk parecia, … empolgado em participar de uma grande batalha na água. Thass simpatizou muito com golfinhos, disse que ia ficar em nome deles. Pelo menos foi que eu entendi. Aurora, lógico, é parte da missão dela como religiosa. Minhas motivações tem alguns pontos em comum com as dela. Blantra que estava, é furiosa, com as suspeitas, e a falta de idoneidade com forasteiros prestativos, foi, um pouco mais complicado. Mas no final, acabou permanecendo conosco.
Como ficamos, Oceanus ofereceu uma bacia mágica que chama elementais. Talvez,..consigamos fazer bom uso.
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Esses dois dias passaram rápido. Muita coisa ainda precisava ser feita. A prioridade, pelo menos para mim, foi ajudar com a retirada de civis. Thass me acompanhou, ela é boa em falar com as pessoas. Acho que com tudo que está acontecendo.. as pessoas, tem sido muito receptivas. Ficou bem claro que estamos ajudando.
Gutuk estava, feliz? Exibia um ânimo para violência impressionante. Ele acompanhava a guarda e curioso com cada possibilidade e estratégia adaptada para aquele terreno incomum. Aurora, imaginei que nos acompanharia com os civis, mas preferiu os assuntos de guerra. Tratou tudo com a mesma seriedade e devoção de quando cura. Blantra, acabou brigando com os nossos anfitriões mais algumas vezes. Ela disse que a Malenti esta nos perseguindo e que tem provas.
Não que não seja importante, talvez eu esteja, … um pouco incomodado com a minha minoria moral.. Assuntos que envolvem magos de Thay.. não é bem o tipo de coisa que existe opção. Isso não torna nada em uma guerra subitamente animador… As estrelas parecem distantes na camada de água acima de Myth Nantar, não gosto quando parece que estamos longe demais delas.
Que os deuses estejam conosco amanhã.