Sonhos dos Magos Vermelhos 06 . O sequestro de Zehira. De novo.
Sonhos dos Magos Vermelhos 06 . O sequestro de Zehira. De novo.

Sonhos dos Magos Vermelhos 06 . O sequestro de Zehira. De novo.

Deixamos Myth Nantar a bordo do Determinação de Umberlee. Voltamos a ver Blantra que havia ficado com Zehira. Pelos deuses ela estava bem! Zehira também estava inteira. O mesmo não se pode dizer, infelizmente, de parte dos marinheiros da Determinação.

Embarcamos para retomar para Ayacar e aconteceu algo muito inesperado.

Como falar isso? Gutuk esperou que todos nos reuníssemos depois da janta, realmente todos, porque eu ia subir no ninho do corvo para fazer meus estudos e ele se colocou na frente da porta bloqueando a saída. Então, ele começou a caçar palavras, um pouco confuso, mas eram palavras muito bonitas a respeito dos últimos tempos em nosso grupo. Falou como estivemos juntos quase morrendo em batalha, em guerra, improvisando estadia, pelo caminho, toda sorte de situação boa ou ruim e até algumas engraçadas. Enquanto falava, abriu a bolsa e entre várias coisas, com um pouco de dificuldade achou o que queria: um pacotinho de lenço enrolado e dentro um conjunto de aros. Alguns pareciam aros pelo menos, mas logo ele explicou que era um conjunto de pares de anéis, cinco pares. Nos últimos dias, Gutuk tinha ficado direto na forja, não acompanhei muito, finalmente vimos o que estava fazendo. A habilidade toda em fazer coisas de ourivesaria tão delicadas e pequenas, os anéis tinham inscrições únicas, já foi muito inesperado, mas, acho que o que mais surpreendeu, bem, que eram presentes. 

Cada anel tinha inscrições amigo “venn” e escudo “skold” junto a uma runa que ele achou que representava o dono do respectivo anel. O segundo anel ficaria com ele e a ligação entre os pares acionaria o feitiço de proteção.

O primeiro anel pareado era de Aurora e a runa dela era a runa da vida, “liv”. Muito apropriado. Aurora é muito espontânea, deve ser coisa da cultura humana. É confuso, é bonito, e você às vezes você não sabe o que fazer. Em uma situação assim ela abraça as pessoas. É meio estranho, mas não é de forma alguma ruim. 

A segunda pessoa foi Blantra e o anel tinha uma inscrição ligada à ancestralidade dracónica dela, “wyrm”. Ela ficou desconfiada ainda mais que envolvia magia. Cheirou o anel, o que foi engraçado, e ficou observando.  Tentei explicar que estava tudo bem e até ajudaria contra as coisas que ela tem medo, mas Blantra. Trix deu um susto nela com um Fofucho surpresa na cabeça. Foi engraçado.

Logo foi o meu, com a runa da luz “stig”, por causa da luz das estrelas, e eu ainda estava assimilando a situação. É uma honra ser associado a uma runa assim.. eu tento, não sei o quanto consigo. Procurei ser educado, foi bem confuso. Muita gratidão. Aurora lida melhor com essas coisas.

Thass de alguma forma parecia um pouco decepcionada, mas não entendi o porquê. O dela era a runa de sangue “blod”, algo sobre as habilidades místicas que ela tem. Ela disse algo sobre com toda aquele discurso ter esperado uma notícia bombástica como um filho perdido ou algo assim. Como isso seria bombástico?  

Por fim, Trix, com a runa do vento “vind”. Ela também é bem espontânea, perguntou se ele que tinha feito. Gutuk tem realmente algumas facetas que surpreendem. Ele explicou por cima, desconversou. Bem, … Ah sim! Essa hora percebemos que nossa contratante estava no meio ali. Eis que ela cobrava um anel também. Apenas digo que foi sábio de Gutuk manter o profissionalismo. Depois disso dispersamos, cada um em suas tarefas.

A viagem correu bem no começo. No começo. Sem monstros, sem tempestades, apenas os ventos e bola de fogo de Lathander. Uma coisa boa de viagens mais tranquilas, voce pode priorizar os horários mais convenientes. Meus deuses falam mais alto à noite e a miríade de cores do céu não se perde.

Haviam passado por volta de dois dias, estava fazendo os estudos de costume quando vi um navio se aproximando, uma caravela. Estava com ritmo maior que o nosso, mesmo com o mesmo vento. Avisei o senhor responsável no turno que estava por perto, ele correu avisar os demais. Logo dois barcos menores e algo de movimentação na parte das cabines. Desci o mais rápido possível. Dei de cara com Blantra e era o quarto de Zehira. Um sujeito de cabelo roxo e tatuagens na cabeça estava segurando ela pelo pescoço, dois corpos caídos nos pés dela, o lugar em estado de caos. Eles simplesmente sumiram. Voei atrás. Estava de coruja pescadora. Tentei acompanhar a caravela que agora estava se afastando. De alguma forma perceberam que eu não era uma coruja, mas não conseguiram me atingir. Agora pensando, devia ter assumido uma gaivota, ou papagaio do mar?? Corujas pescadoras também ficam na costa! Enfim, de alguma forma, aquela caravela ganhou distância demais. Era algo mágico, porque .. não fazia sentido. Eu ia perder o grupo e longe da costa. Arriscado demais.

Foi frustrante voltar para o barco sem informações. O quarto revirado indicava uma luta intensa. Se até tudo aquilo tinha acontecido, .. definitivamente, … alguma coisa mágica. Um dos sujeitos deixados,  apesar do estado, estava vivo. Aurora levantou a possibilidade da caravela ser apenas distração. Faria muito sentido.

Trix deixou ele rendido, enquanto verificamos tudo que tinha. Gutuk assumiu o comando, os marujos estavam com dificuldades em se organizar. O impacto foi demais. Sorte termos tido introdução básica emergencial em Myth Nantar. Gutuk assumiu o leme, eu assumi a parte de navegação, Blantra organizou os esforços com as velas, Trix cordas, Thass e Aurora ajudaram os homens recobrarem o foco. 

Preciso fazer um comentário sobre a quantidade de instrumentos, mas que às vezes, um bom mapa e as runas certas podem fazer muito bem o serviço. 

Quando o sujeito acordou conseguimos algumas informações. Barganhou com Gutuk e Aurora. Ele era um mercenário contratado por Thay, e o homem que levou Zehira responde por “Rune”. Ele tem um laboratório ou qualquer coisa no Bucho Infernal, o vulcão da ilha do dragão. 

O tipo mais miserável que se coloca à disposição dos magos thayanos. Mesmo naquela situação mantinha a arrogância e debochava da barganha. Debochava “da piedade que aventureiros como nós tinhamos”. Aurora fez questão de mantê-lo vivo, independente da situação. Ela é o tipo de pessoa rara que merece respeito quando faz um pedido assim. Apenas por isso. Thass até comentou de deixar o sujeito no primeiro porto inimigo de Thay por onde passarmos. Provavelmente os únicos portos aliados de Thay são os de Thay. Mas pensar nisso, por enquanto, não é prioridade. 

Agora pensando sobre, creio que os demais não chegaram a conhecer Thay. Conheci em uma das primeiras missões. Era uma coisa que, na época, meu mestre disse que eu precisava conhecer pessoalmente. Ele orientou sobre uma estabelecimento que parecia ter um infeliz tornado pedra bem na parte da frente. Havia uma moça como Thass, um goblin estranho mas simpático e um humano que falava bem e entendia sobre burocracias e regras humanas. O serviço era entregar uma carta em um casa de jogos, o contratante, um humano abastado com cheiro de morte. 

O primeiro lugar que se conhece em Eltabbar é o mercado de escravos. Fica perto da entrada, sentido centro. Os vivos que já foram esgotados são erguidos e continuam o serviço até que absolutamente nada sobre. Estão por toda parte.

A pessoa que recebeu a carta e que nos deu o próximo trabalho, era o máximo de algo com princípios naquele lugar. Uma humana que traficava criaturas, as colocava sob condições abomináveis e as condenava a lutar até a morte. Entretenimento para os senhores de escravos que se distraiam entre jogos e vinho, pisando nas outras criaturas que haviam provavelmente comprado no mercado poucas quadras dali. Os escravos vivos e mortos, são apenas a faceta mais escancarada do contexto.

Gente que serve diretamente à Thay, mesmo quando de forma mercenária, aceita o serviço em plena ciência do que, para quem e compartilha do sadismo. 

Eu vim de um lugar que lembra muito Thay. Mais religião e menos necromancia, mas parece o suficiente. 

Aquele sujeito ainda vai dar problema. Por hora, temos que seguir viagem. O que resta é estar atento. Pelo menos temos a rota.

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Navegamos por mais 2 dias, rumo a ilha que supostamente é o esconderijo do thayano. Lembrei que também era a casa do irmão de Mpik. Aquele mephit que estava na lâmpada e falava comum.

A primeira característica peculiar, conforme nos aproximávamos, era uma quantidade cada vez maior de animais antigos. Não velhos, os de tempos antigos. Quando chegamos perto suficiente, avistamos uma tempestade.  Gutuk já estava no leme, Blantra ficou de reforço. A tripulação presente foi orientada, e chamei a amizade das águas para todos a bordo. Quase todos. Depois sob o dragão das estrelas, chamei as próprias águas para que nos levassem em um caminho que pelo menos não virasse o barco. Não impediu que pessoas caíssem, inclusive eu, Aurora e Thass caímos. Mas foi possível administrar a recuperação de todos sem mortes. Um último esforço, já em cima de uma barreira de corais, Gutuk e Blantra tiveram que segurar juntos o leme, e entramos mais no banco de areia que nas rochas. Parte do barco precisando de uns bons reparos. Mas não parou por aí, ainda estávamos em tempestade e as águas, acho que elas mesmo que pediram ajuda porque nos levaram para o trio de servos do kraken que sustentavam a tempestade que nos cercava. Havia também um enorme elemental.

Os servos do kraken não foram tanto problema, mas a entidade da tempestade, bem cansativo. Ele conseguia puxar quem estava próximo e quando não apertava, arremessava com a facilidade de quem arremessa uma fruta. No final estavam todos cercando e tentando dar um fim nele. Sim, ele tinha forma independente de seus conjuradores.

Valeram os anéis de Gutuk, a despeito das reclamações de Blantra. Eu acho que valeram. E Trix, ela finalizou de forma tão elegante a criatura que por um instante parecia uma barda em algum tipo de dança enquanto a lâmina se projetava em sombra. Só então a tempestade cessou.

O elemental deixou como seu único uma grande concha que ficou com Aurora para ela checar as propriedades mágicas.

Estávamos cansados, da viagem, da tempestade e da luta. Foi unânime que era necessário um descanso primeiro. 

Os colegas do barco pareciam bem, alguns ferimentos, contudo vivos. Ter chamado a amizade das águas valeu a pena. Depois do descanso eles ficariam consertando o barco e nós iríamos encontrar .. .. não tenho bem certeza, o que estiver no Bucho. Talvez Zehira. 

Nostálgico de forma não agradável, ir atrás dela em uma ilha de vegetação tropical úmida, com possíveis e provavelmente com mais criaturas antigas.